segunda-feira, junho 22

[VÍDEO] Club Beck


Sempre que Beck entra em ebulição criativa, o mundo torna-se um pedacinho melhor. Pelo menos é a impressão que dá. O mais recente projecto do californiano chama-se Record Club, e embora pareça, pela forma como é apresentado, uma simples adição de conteúdo ao seu site oficial, a verdade é que representa um método pioneiro de abordagem a música já escrita, assente na espontaneidade e intuição musical de quem interpreta.

O plano é o seguinte: Beck convida outros músicos a passarem lá por casa e, no curto espaço de um único dia de gravações, reinterpretarem um álbum de fio a pavio, sem preparação prévia. Uma faixa por semana vai sendo colocada nos websites dos respectivos intervenientes. Premissa tão simples quanto empolgante. E mais empolgante se torna quando olhamos para os ilustres membros do clube anunciados até à data: MGMT, Jamie Lidell, Devendra Banhart, o actor/cunhado Giovani Ribisi, e o produtor Nigel Godrich, equivalente a um George Martin dos Radiohead. Boy, oh boy.

O primeiro álbum escolhido foi o seminal "Velvet Underground & Nico", e a primeira faixa a ver a luz do dia é "Sunday Morning", que conta com a colaboração vocal da islandesa Thorunn Magnusdottir. O resultado é, expectavelmente, sublime.

Neste mundo de Jasons Mrazes, Simplies Reds e Mafaldas Veigas, graças a Deus, ainda há quem trabalhe:



terça-feira, junho 16

[ÁLBUM NOVO] A Escura Alma da Indústria

Foi há coisa de um mês que Dark Night of the Soul, o novo álbum dos Sparklehorse, de Mark Linkous, (quase) teve o seu lançamento. Já lá vamos. As boas notícias primeiro: DNOTS é uma indielicious (?) colecção de ilustres colaboradores, desde Vic Chesnutt, Scott Spillane (Neutral Milk Hotel), James Mercer (The Shins), Wayne Coyne (The Flaming Lips), Julian Casablancas (The Strokes), Black Francis (Pixies), Gruff Rhys (Super Furry Animals), Iggy Pop (sim, o Iggy Pop), e mais uns quantos.

Sumo-pontífice de todos eles é Danger Mouse, responsável pela produção e parceiro de Linkous na composição, a emprestar o seu toque de midas a mais um projecto não hip hop, em mais uma clara demonstração de versatilidade e sensibilidade pop/rock. Ou foi isso ou foi comprado a muito bom preço. Sim, porque se algum dia uma banda indie vos disser que nunca teve um sonho molhado com Danger Mouse, de certeza que vos está a mentir.

O resultado é um disco estranho muitas vezes, reconfortante e familiar outras, interessante quase sempre. A parca e minimalista produção de Danger Mouse abre espaço às canções e ao reconhecido ambiente hipnótico, psych-dream-pop em que os Sparklehorse se movimentam. Há momentos verdadeiramente interessantes e únicos, como as participações de Casablancas, Mercer, Spillane ou Rhys, em que tudo parece bater certo, com conta peso e medida. Mas depois vem o Iggy Pop. E parece que queremos mudar de música. Em suma, se It's a Wonderful Life não fez dos Sparklehorse a vossa banda preferida de sempre, não é este álbum que vai fazê-lo.

Mas a normal e saudável edição do álbum, da qual faz parte um livro com fotografias de David Lynch (que também contribui na composição musical de duas faixas) foi prejudicada pelo certamente justificado receio de Danger Mouse em ser processado pela EMI, devido à infindável batalha judicial em que ambos estiveram envolvidos após a edição de Grey Album (mashup de "White Album" dos Beatles e de "Black Album" de Jay-Z). A acrescer a tudo isso, o nojento lápis azul do monstro EMI fez ainda desaparecer do You Tube o vídeo promocional de DNOTS, composto por uma sequência de fotografias da autoria de Lynch. Lamentável! Opressão vergonhosa! Vil censura! (shhhh pronto, pronto, está tudo bem, podem ver o vídeo aqui).

No entanto, Danger Mouse e Sparklehorse deram a volta ao texto, editando o livro com um CD-R em branco onde se pode ler
"For Legal reasons, enclosed CD has no music. Use it as you will"
e disponibilizando o álbum completo em stream no site na NPR, com possibilidade de download directo. Honrem-lhes o gesto e ouçam-no de início ao fim. Middle finger to the man.

7/10

Sparklehorse & Danger Mouse - Little Girls (com Julian Casablancas)

Sparklehorse & Danger Mouse - Just War (com Gruff Rhys)

sexta-feira, junho 12

[VÍDEO] Aí vem o Sol

...e com ele as habituais recomendações estivais: músicas festivas, dançáveis e despreocupadas. De momento temos três: "Sleepy Head" dos Passion Pit, "Raindrops" dos Basement Jaxx e "Summertime Clothes", dos Animal Collective.

Licença para delirar.





[ÁLBUM NOVO] Recapitulando #1

Porque o Senhor só Acordou em meados de Abril (e não, não estamos a falar da Páscoa), é imperativo arregaçar as mangas e rebobinar um bocadinho o ano musical para que a coluna aqui da esquerda fique mais compostinha e reflicta adequadamente o que nos foi agraciando os tímpanos durante o ano. Cá vai a lista:


Animal Collective - Merriweather Post Pavillion

Começamos pelo álbum mais difícil de descrever, que é já para despachar. E a primeira sensação após a audição do álbum de início ao fim é: não há nenhuma banda do mundo remotamente parecida com os Animal Collective. O nível de abstracção na maneira como aqui são abordados os elementos básicos que compõem as canções, a sua desconstrução e recolagem numa manta de retalhos, de castelos de loops exaustivos e camadas sucessivas de samples, batidas e vocalizações e melodias mecânicas, andam tão longe do convencional que é tão fácil rotulá-los de visionários como de um bando de freaks indulgentes. O apelo dos (mais que muitos) momentos de puro assombro e êxtase em que as faixas se vão transformando, no entanto, fazem-nos inclinar bastante para a primeira hipótese. Merriweather... é a prova raríssima e irresistível de que é possível deliciarmo-nos com um álbum sem nunca sair do modo mas-que-raio-de-música-é-esta, e essa é a merecida conquista de uma banda que pareceu estar toda a sua carreira a convergir para este disco.

9/10

[MP3] Animal Collective - My Girls

[MP3] Animal Collective - Brothersport


Doves - Kingdom of Rust

A banda de Manchester regressa com mais uma colecção de canções poderosas, ascendentes, feitas a pensar em estádios cheios. Há alguns refrescos, como os laivos de electrónica bem audíveis em "Jetstream", abertura do álbum em modo LCD Soundsystem não-dançável, e o ambiente de fároéste do primeiro single do álbum, "Kingdom of Rust". Não se repetem as proezas de "The Last Broadcast", de 2002, até porque um álbum desses - uma das melhores coisas a saírem do rock britânico desta década - dificilmente acontece duas vezes. Com o leme menos virado para a pop, Kingdom of Rust aposta mais em reunir elementos, encaixá-los, torná-los épicos - ainda que a espaços tanta densidade emocional acabe por ficar pintada a cinzento. Mas os Doves continuam a acreditar na pujança e grandiosidade das canções rock pensadas, complexas, cheias, a crer no seu poder arrebatador. E a essa fé dizemos nós amén.

7/10

[MP3] Doves - Kingdom of Rust

Doves - Spellbound


DOOM - Born Like This

Born Like This marca o regresso de DOOM (antes conhecido como MF Doom), o menos loiro dos homens da máscara de ferro conhecidos até à data. DOOM traz na bagagem uma longa carreira de colaborações com notáveis e álbuns incrivelmente coesos, em que foi criando e depurando um estilo e um imaginário muito próprios. Mas poucos dos trabalhos a solo conseguem acertar na tecla tão precisamente como Born Like This, em que o falso desleixo das batidas são o tapete perfeito para o flow de DOOM, o desfiar de uma encruzillhada de referências pessoais e alusões à cultura popular, ("Cellz" começa com Bukowski na primeira pessoa, num sample do filme "Born Into This"), quase sempre abstracta, com recursos de vocabulário quase infinitos, ímpares no hip hop independente - se excluirmos Del Tha Funkee Emcee - tudo cuspido numa média de 3 rimas por verso. Talvez "rima" nem seja a melhor palavra, porque DOOM não rima: alitera.

DOOM continua a ser daqueles que percebeu que o hip hop já é um jovem adulto, e não pode dar-se ao luxo de ser superficial, preguiçoso - lírica ou sonicamente. Pelo menos não de uma maneira sistemática. Não que o próprio DOOM seja um portento de conteúdo, mas apenas porque respeita o género enquanto legítima forma de expressão artística, não o trata com a indigência intelectual que tantas vezes torna o hip hop um mero fenómeno sub-cultural de novo-riquismo, criativamente estanque.

8/10

[MP3] DOOM - Gazzillion Ear

[MP3] DOOM - Ballskin

quarta-feira, junho 3

[VÍDEO] Regina Spektor - O longe já tão perto


...porque o novo álbum se chama Far. E está prestes a sair. É só por isso.

O sucessor do precioso Begin to Hope (2006) teve já direito a single e vídeo de avanço, com a faixa "Laughing With", que começa por ser uma boa ideia - ninguém se ri de Deus nos momentos trágicos - mas a modos que falece na praia.



Bem mais animadora parece ser "Folding Chair", outra faixa a integrar o álbum, recentemente estreada no MySpace da cantora moscovita,assim como "Blue Lips", lado B do single "Lauging With", ambas bem mais representativas do talento de Spektor. Para concordar com esta afirmação, clicar aqui.

My body's perfect 'cause my eyelashes catch my sweat. Yes they do.


Far é editado a 23/6 pela Sire Records.

__________________________________________________

Actualização: parece que o timing do post foi fintado como um defesa desmotivado do Estrela da Amadora, porque hoje mesmo saltaram cá para fora mais dois temas (e respectivos vídeos) de Far, que assim fica um pouco mais a descoberto.
São eles "Dance Anthem of the 80's" e "Eet"; após uma rápida audição, o primeiro parece-nos ser, pra já pra já, a melhor canção do disco, com um potencial para single bem maior do que do que "Laughing With". Quanto ao segundo tema, e parafraseando Borat, "not so much".


Dance Anthem of the 80s



Eet


(VIA I Guess I'm Floating)
 
Elegant de BlogMundi