E este até surgiu de repente: tendo começado por uma faixa de encomenda (Life is Hard) para o filme "My Own Love Song", de Olivier Dahan, o senhor deixou o mojo fluir e acabou com um novo álbum na mão.
Em "Together..." voltamos a encontrar Dylan na sua zona de conforto, reconciliado com as suas raízes do blues e folk (espreitando até as síncopes de Carlos Santana, no single de apresentação disponível há algumas semanas para download gratuito, Beyond Here Lies Nothing). Continuamos à beira da estrada, empoeirados e com bafo a whisky, num registo clássico e longe da experimentação de outros dias, na linha contínua de Love and Theft e Modern Times. Mais uma vez, quem assina a produção é Jack Frost, pseudónimo de estúdio de Dylan.
Ao contrário do que às vezes transparece na sua voz, e na toada repetitiva dos seus blues, Bob Dylan não é um homem cansado: é um homem em paz. Quando antes arrancava o escalpe ao blues/folk e lhes injectava alguma da mais importante poesia do século XX, queria mudar o mundo, e fê-lo. Agora, só quer divertir-se, balançar a cabeça, e cantar os blues. E se ainda tem alguma coisa de relevante para dizer, não parece que esteja para se chatear com isso. Já só anda pelo prazer do caminho, e isso não é necessariamente mau. Muito menos para nós, porque é sempre agradável poder continuar a ouvi-lo e a balançar a cabeça com ele. Ainda que isso signifique que no fundo saibamos que Dylan já não ultrapassará mais o "agradável".
Não faz mal, nós temos os discos lá em casa.
6/10
Bob Dylan - Beyond here lies nothing
Aproveitamos para relembrar ainda uma personal favourite, que também musicou de maneira magnífica o filme "Easy Rider", de Dennis Hopper e Pete Fonda, e que é um pedaço da mais acutilante e arrebatadora poesia da contemporaneidade norte-americana.
Para acompanhar cada palavra e verso aqui. É uma ordem.
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