quinta-feira, novembro 5

[RELICÁRIO] Stranger Song



[MP3] Leonard Cohen - The Stranger Song



The Stranger Song
- Leonard Cohen (de "Songs of Leonard Cohen", 1967)

It's true that all the men you knew were dealers
who said they were through with dealing
Every time you gave them shelter
I know that kind of man
It's hard to hold the hand of anyone
who is reaching for the sky just to surrender
who is reaching for the sky just to surrender.

And then sweeping up the jokers that he left behind
you find he did not leave you very much not even laughter
Like any dealer he was watching for the card
that is so high and wild
he'll never need to deal another
He was just some Joseph looking for a manger
He was just some Joseph looking for a manger.

And then leaning on your window sill
he'll say one day you caused his will
to weaken with your love and warmth and shelter
And then taking from his wallet
an old schedule of trains, he'll say
I told you when I came I was a stranger
I told you when I came I was a stranger.

But now another stranger seems
to want you to ignore his dreams
as though they were the burden of some other
O you've seen that man before
his golden arm dispatching cards
but now it's rusted from the elbows to the finger
And he wants to trade the game he plays for shelter
Yes he wants to trade the game he knows for shelter.

Ah you hate to see another tired man
lay down his hand
like he was giving up the holy game of poker
And while he talks his dreams to sleep
you notice there's a highway
that is curling up like smoke above his shoulder
It is curling just like smoke above his shoulder.

You tell him to come in sit down
but something makes you turn around
The door is open you can't close your shelter
You try the handle of the road
It opens do not be afraid
It's you my love, you who are the stranger
It's you my love, you who are the stranger.

Well, I've been waiting, I was sure
we'd meet between the trains we're waiting for
I think it's time to board another
Please understand, I never had a secret chart
to get me to the heart of this
or any other matter
When he talks like this
you don't know what he's after
When he speaks like this,
you don't know what he's after.

Let's meet tomorrow if you choose
upon the shore, beneath the bridge
that they are building on some endless river
Then he leaves the platform
for the sleeping car that's warm
You realize, he's only advertising one more shelter
And it comes to you, he never was a stranger
And you say ok the bridge or someplace later.

And then sweeping up the jokers that he left behind
you find he did not leave you very much not even laughter
Like any dealer he was watching for the card
that is so high and wild
he'll never need to deal another
He was just some Joseph looking for a manger
He was just some Joseph looking for a manger.

And then leaning on your window sill
he'll say one day you caused his will
to weaken with your love and warmth and shelter
And then taking from his wallet
an old schedule of trains, he'll say
I told you when I came I was a stranger
I told you when I came I was a stranger.
I told you when I came I was a stranger.



segunda-feira, outubro 26

[VÍDEO] Um Steve de Outro Tempo


Nesta era de ritmos hiperacelerados e hiposaboreados em que nos calhou viver, nada desenjoa mais - musicalmente falando - do que ouvir tocar e cantar gente como Seasick Steve, um velho redneck dos blues cuja história de vádiáge faz Bob Dylan parecer um festivaleiro de Verão e Jorge Palma um festivaleiro de Verão que só foi ao último Sudoeste ver Patrice.

Além do interminável rol de estórias da estrada e da rua vividas em profundo anonimato - algumas delas presentes nos próprios discos e relatadas na primeira pessoa - Steve foi companhia de Joni Mitchell, Janis Joplin, foi amigo de Kurt Cobain e produziu o primeiro álbum dos Modest Mouse, até.

O álbum de 2008 I Started Out With Nothing and I Still Got Most Of It Left, que o catapultou para a notoriedade, e o seu sucessor Man From Another Time, editado este mês e que já está em 4º lugar de vendas no Reino Unido, são duas portas abertas para a raíz da música negra americana e para um estado de alma que já não é deste tempo.

Pouco pode ser mais genuíno do que os hobo blues que Steve materializa com a sua guitarra e derivados instrumentos acústicos - que ele próprio concebe! - e os sentimentos primários que aí se cantam e expurgam. A voz de Steve, rouca, suada e empoeirada como as canções, confunde-se com um uivo longínquo que vem das plantações de algodão do Delta do Mississipi e ressoa no século XXI absolutamente intacto.

Nas nossas já conhecidas Black Cab Sessions:





No nosso também já conhecido Jools Holland:



Outro dos pontos altos de I Started Out...:

[MP3] Seasick Steve - Walkin Man

terça-feira, outubro 20

[STREAM] Segunda Frase Para a Mocidade



Depois de "11th Dimension", vem à tona a segunda faixa incluída em Phrazes for the Young, o antecipado álbum a solo de Julian Casablancas, entitulada "River of Brakelights". O resultado é um tema mais obscuro e dissonante, repleto de sintetizadores distorcidos e uma estrutura menos óbvia do que a da sua antecessora. Irreverência bem-vinda.

Além de uma obsessiva contagem decrescente à escala planetária, podem também encontrar a música em questão aqui assim.

segunda-feira, outubro 19

[VÍDEO] Luz no Túnel

Apesar do álbum, considerado no seu todo, acabar por ser inconsistente e algo derivante, vale a pena dedicar algum tempo a conhecer estes Here We Go Magic, banda nova-iorquina capitaneada por Luke Temple - cujo trabalho a solo também é digno de atenção - e que lançou este ano, pela Western Vinyl, o seu homónimo disco de estreia.

Cá fica então a faixa de maior destaque de HWGM, "Tunnelvision", agasalho inaugural para o primeiro arrepio outonal de 2009:



Para quem quiser levar para casa, também o MP3:

[MP3] Here We Go Magic - Tunnelvision

sexta-feira, outubro 16

[VÍDEO] Ídolos

Há rapaziada que é capaz de mandar qualquer coisa para ver se vai às audições do Ídolos e aparece na televisão, ao lado da Cláudia Vieira vestida de Pocahontas.

Atentem bem neste marmelo, de cabelo à Sá Pinto no tempo do Salgueiros, com uma coreografia early pimba a cantar uma música que ninguém conhece.

Parece que às vezes as pessoas não têm noção.

E com aquela golinha alta de lã vermelha, realmente... your chances turn to toast.

quarta-feira, outubro 14

Apesar do pedido de várias famílias.

Depois do prolongado hiato, profunda e angustiadamente sentido por cada um de vós, este blogue retoma agora a sua emissão normal.

Para já só alguns recados:

a) Primeira pista para o álbum a solo de Julian Casablancas, "Phrazes for the Young":

Julian Casablancas - 11th Dimension

b) Nova faixa dos Vampire Weekend, a integrar o segundo de originais da banda nova-iorquina, "Contra":

Vampire Weekend - Horchata

c) Material novo - e promissor! - de Sufjan Stevens, experimentado ao vivo:

Sufjan Stevens - There's Too Much Love (ao vivo)

d) Apresentação de "Embryonic", mais recente álbum de originais dos Flaming Lips, no programa do não menos flamejante Stephen Colbert:

The Flaming Lips - Convinced of the Hex
The Colbert ReportMon - Thurs 11:30pm / 10:30c
www.colbertnation.com
Colbert Report Full EpisodesPolitical HumorMichael Moore

e) E antes que chegue o ringtone:

Bon Iver e St. Vincent - Roslyn


(para que se perceba o alcance da última observação, é favor clicar aqui e ler o respectivo post, bem como todos os outros que aí acharem interessantes. A menos que tenham coisas para fazer amanhã de manhã, senão quando derem por ela são cinco da manhã e já vão no arquivo de Maio de 2005. Obrigado An7ónio!)

quinta-feira, julho 30

[MP3] PralÁfricaminha


Além de serem oficialmente a banda cujo nome mais dificulta uma pesquisa de torrents, os The Very Best são também Esau Mwamwaya, cantor do Malawi, e Radioclit, DJ e produtor britânico, que no fim do ano passado lançaram a mixtape Esau Mwamwaya and Radioclit are The Very Best e se preparam para lançar em breve, o primeiro álbum propriamente dito, The Warm Heart of Africa. São outras coisas ainda, mais subjectivas, que só a música que fazem pode explicar.

Esta parceria insuspeita resulta num espantoso e revigorante exercício de cruzamento de influências, um autêntico gender bender onde pontificam as síncopes e melodias africanas de Esau e as batidas hip-hop e a electrónica deliciosamente lo-fi de RadioClit. Totalmente despretensioso, festivo e desenjoativo: um sorriso desde os 00:00 até ao fim.

Depois de versões da "Birthday" dos Beatles - em colaboração com os Ruby Suns - e de "Boyz" de M.I.A., chega agora "The Warm Heart of Africa", primeiro avanço do que será o álbum, em parceria - aqui já menos suspeita - com Ezra Koenig, dos Vampire Weekend.

Os The Very Best são mais um passo na tendência para recuperação dos sons tradicionais africanos, depois de nomes como os Vampire Weekend e, originalmente, outros como Paul Simon e David Byrne o terem feito, e talvez não haja época no calendário tão propícia a que se disfrute deles como esta. Pelo menos, está para vir melhor lema para o Verão de 2009 do que "Zicatere, Zicatere, Malauimotoooo".


The Very Best - Warm Heart of Africa (com Ezra Koenig)



The Very Best - Boyz (com M.I.A.)

terça-feira, julho 28

[MP3] Avulsos


Quatro faixas que têm insistido em entupir os headphones esta semana:

O solarengo prenúncio de Logos, próximo álbum do projecto paralelo de Bradford Cox (Deerhunter), com a colaboração de Noah Lennox (Panda Bear, Animal Collective). O resultado não podia ser outro...

Atlas Sound - Walkabout (com Noah Lennox) (do álbum Logos)


A bateria de "Airbag" de OK Computer, depois o vocoder distorcido dos Air, depois a progressão psicadélica dentro de um caixilho pop, à Spiritualized. Bela salada.

Black Moth Super Rainbow - Born On A Day the Sun Didn't Rise (do álbum Eating Us)


A janela para a alma de Conor Oberst (Bright Eyes).

Conor Oberst and the Mystic Valley Band- White Shoes (do álbum Outer South)




Com perfeito domínio do épico e do melódico, os Cymbals Eat Guitars ameaçam ser o que os ...And You Will Know Us By The Trail Of Dead ameaçam deixar de ser.

Cymbals Eat Guitars - And The Hazy Sea (do álbum Why There Are Mountains)

segunda-feira, julho 20

[NA GRADE] Nova (de) Yorke

No entanto, foi em pleno solo britânico, no Latitude Festival, e num concerto em nome próprio, que Thom Yorke decidiu revelar um pouco do que de novo tem andado a fazer. O tema tem o (eventual) título "The Present Tense", e, nesta versão em que apenas a guitarra acompanha, soa a uma balada intimista com a habitual imprevisibilidade na progressão harmónica das composições de Yorke. E aquela voz nunca esteve melhor do que agora.

Fica apenas por saber qual o destino a dar a "The Present Tense", sendo certo que os Radiohead estão já em estúdio a gravar o sucessor de In Rainbows e haverá a possibilidade de Yorke querer atirar um ou dois pedaços de work in progress cá para fora e ver o que sai do outro lado do You Tube. Mas mais se saberá em Reading, a 30 de Agosto.


sexta-feira, julho 17

[VÍDEO] Club Beck #2


Beck continua a debitar a bom ritmo material de grande qualidade no seu site oficial, e começa a tornar-se um caso ímpar entre os seus no que toca ao uso que faz dessa plataforma. Aos poucos, o sítio vai-se tornando quase como um diário da vida criativa do músico, o que o obriga a transformar a mais pequena coisa que faz num objecto já acabado, pronto a apresentar ao público e, ao mesmo tempo, torna possível uma sensação de intimidade e aproximação com os fãs muito grandes. Não chegamos a sentir-nos amiguinhos, como no Twitter, mas quase.

Divididas as actividades por secções, há uma versão semanal de cada faixa de Velvet Underground & Nico (Record Club), um DJ set semanal (Planned Obsolescence), entrevistas e conversas (Irrelevant Topics), uma colecção de vídeos (Videotheque), e sabe-se lá o que mais no futuro. Fotos de tainadas, quem sabe.

Para já, fica aqui a mais recente introdução da Videotheque, uma versão acústica do melhor tema de Modern Guilt, "Orphans", visualmente desconstruída:

Modern Guilt Acoustic "Orphans" from Beck Hansen on Vimeo.



E ainda o resultado da sessão em que Beck, Nigel Godrich e amigos passaram a noite a injectar psicadelismo naquela que, segundo os próprios, é a "first goth song ever":

Record Club: Velvet Underground & Nico "Venus In Furs" from Beck Hansen on Vimeo.

quarta-feira, julho 15

[NOVAS] A Vez de Casablancas


Desesperem aqueles que contavam com um novo álbum dos Strokes ainda em 2009: depois de Albert Hammond Jr., Nikolai Fraiture e Fabrizio Moretti, chega a altura de Julian Casablancas saltar a cerca dos Strokes e aventurar-se num projecto a solo. Contando já alguns biscates para bandas como N*E*R*D*, Queens of the Stone Age e, mais recentemente, Sparklehorse, a voz da banda nova-iorquina arrisca-se num álbum em nome próprio, profeticamente intitulado "Phrazes for the Young".

Além disso, e a avaliar pela ínfima amostra do teaser do álbum (se é que ele permite alguma avaliação), risco pode até vir a revelar-se como o termo certo para definir esta jogada de Casablancas, pelo ambiente electrónico e synth-pop, estilizado e futurista que parecem emanar os escassos segundos do vídeo. A confirmar-se, seria uma maçã a cair bem mais longe da árvore dos Strokes do que as outras.

"Phrazes for the Young" tem edição prevista para Outubro deste ano:



Brinde: faixa retirada do álbum de estreia dos Little Joy, projecto paralelo do baterista da banda Fabrizio Moretti e Rodrigo Amarante, vocalista dos brasileiros Los Hermanos, tão só e discretamente um dos melhores álbuns de 2008.




Descubram o resto aqui.

sexta-feira, julho 10

[MP3] O Bom Folclore


Em jeito de serviço público, aqui vão umas sugestões acústicas para saborear neste fim-de-semana:

- Novo tema dos Fleet Foxes, apresentado ao vivo para os estúdios da BBC, ou mais um exemplo da genial simplicidade das composições de Robin Pecknold (na foto):

[MP3] Fleet Foxes - Blue Spotted Tail (ao vivo para a BBC6)


- Versão-homenagem do tema "Waterfall" de Judee Sill, por Daniel Rossen (uma das forças criativas dos Grizzly Bear e Department of Eagles), com abertura a remeter para "Sun King", dos Beatles:

[MP3] Daniel Rossen - "Waterfall"


- E ainda um pequeno bónus para recuperar o álbum de estreia do colectivo folk Vetiver, baptizado com o mesmo nome e editado em 2004. Oh, the good times/shouldn't be so hard to find:

[MP3] Vetiver - Farther On

terça-feira, julho 7

[MP3] O Raio dos Miúdos

Viu ontem a luz do dia "Crying Lightning", a primeira faixa a sair do estúdio de gravações de Humbug, terceiro álbum de originais dos britânicos Arctic Monkeys. Desde Favourite Worst Nightmare, o vocalista, letrista, guitarrista e wunderkind em geral Alex Turner trabalhou também com Miles Kane dos Rascals, para gravar The Last Shadow Puppets, álbum de estreia do projecto com o mesmo nome, e parece ter daí trazido um pouco do espírito crooner e de riffs mais sombrios para as composições da banda.

"Crying Lightning" é um excelente prenúncio para o que nos pode trazer Humbug, com o músculo das guitarras e da poesia de Turner intactos. Quanto aos créditos de produção, se não soubéssemos e tivéssemos de adivinhar, talvez não fossem precisas muitas tentativas: trata-se de Josh Homme, corpo e alma dos Queens of the Stone Age, e cuja marca indelével de stone rock do deserto Mojave se faz sentir neste primeiro avanço da banda. Não poderíamos pedir muito mais.

Humbug sai a 19 de Agosto no Japão e a 24 no Reino Unido. Não fossem os 10 minutos de um rapaz vestido de branco num palanquezinho em Madrid, seria um dos momentos mais aguardados do Verão.

[MP3] Arctic Monkeys - Crying Lightning

sexta-feira, julho 3

[VÍDEO] Vídeo-Truques

É sempre interessante ver até que ponto o suporte visual de um videoclip pode alavancar o potencial de uma canção (seja ele lírico, rítmico ou qualquer outro), sem cometer o pecado de o obliterar e nos distrair da música em si. Quando a coisa é feita de forma original ou cativante, o objecto passa a valer por si.

Três belos e recentes exemplos disso mesmo são os vídeos de "Little Bribes" dos Death Cab for Cutie, "Strictly Game" dos Harlem Shakes e "Can't Stop Feeling" dos Franz Ferdinand.

Aqui vão, por ordem:

A devoção de um fã posta ao serviço da própria banda, num excelente tema do mais recente EP Open Door:

Death Cab for Cutie - Little Bribes from Ross Ching on Vimeo.



A paródia aos vídeos amadores de homenagem que grassam no You Tube, com a banda a aguentar as poses em vídeo, em substituição de fotografias com estilo:



A curiosa interligação e sequência de janelas (e os enigmáticos buracos no colete de Alex Kapranos):

quarta-feira, julho 1

[NOVAS] Holy S**t, Jens



(Lá se vai o concerto em Coimbra, no próximo dia 18...)

segunda-feira, junho 22

[VÍDEO] Club Beck


Sempre que Beck entra em ebulição criativa, o mundo torna-se um pedacinho melhor. Pelo menos é a impressão que dá. O mais recente projecto do californiano chama-se Record Club, e embora pareça, pela forma como é apresentado, uma simples adição de conteúdo ao seu site oficial, a verdade é que representa um método pioneiro de abordagem a música já escrita, assente na espontaneidade e intuição musical de quem interpreta.

O plano é o seguinte: Beck convida outros músicos a passarem lá por casa e, no curto espaço de um único dia de gravações, reinterpretarem um álbum de fio a pavio, sem preparação prévia. Uma faixa por semana vai sendo colocada nos websites dos respectivos intervenientes. Premissa tão simples quanto empolgante. E mais empolgante se torna quando olhamos para os ilustres membros do clube anunciados até à data: MGMT, Jamie Lidell, Devendra Banhart, o actor/cunhado Giovani Ribisi, e o produtor Nigel Godrich, equivalente a um George Martin dos Radiohead. Boy, oh boy.

O primeiro álbum escolhido foi o seminal "Velvet Underground & Nico", e a primeira faixa a ver a luz do dia é "Sunday Morning", que conta com a colaboração vocal da islandesa Thorunn Magnusdottir. O resultado é, expectavelmente, sublime.

Neste mundo de Jasons Mrazes, Simplies Reds e Mafaldas Veigas, graças a Deus, ainda há quem trabalhe:



terça-feira, junho 16

[ÁLBUM NOVO] A Escura Alma da Indústria

Foi há coisa de um mês que Dark Night of the Soul, o novo álbum dos Sparklehorse, de Mark Linkous, (quase) teve o seu lançamento. Já lá vamos. As boas notícias primeiro: DNOTS é uma indielicious (?) colecção de ilustres colaboradores, desde Vic Chesnutt, Scott Spillane (Neutral Milk Hotel), James Mercer (The Shins), Wayne Coyne (The Flaming Lips), Julian Casablancas (The Strokes), Black Francis (Pixies), Gruff Rhys (Super Furry Animals), Iggy Pop (sim, o Iggy Pop), e mais uns quantos.

Sumo-pontífice de todos eles é Danger Mouse, responsável pela produção e parceiro de Linkous na composição, a emprestar o seu toque de midas a mais um projecto não hip hop, em mais uma clara demonstração de versatilidade e sensibilidade pop/rock. Ou foi isso ou foi comprado a muito bom preço. Sim, porque se algum dia uma banda indie vos disser que nunca teve um sonho molhado com Danger Mouse, de certeza que vos está a mentir.

O resultado é um disco estranho muitas vezes, reconfortante e familiar outras, interessante quase sempre. A parca e minimalista produção de Danger Mouse abre espaço às canções e ao reconhecido ambiente hipnótico, psych-dream-pop em que os Sparklehorse se movimentam. Há momentos verdadeiramente interessantes e únicos, como as participações de Casablancas, Mercer, Spillane ou Rhys, em que tudo parece bater certo, com conta peso e medida. Mas depois vem o Iggy Pop. E parece que queremos mudar de música. Em suma, se It's a Wonderful Life não fez dos Sparklehorse a vossa banda preferida de sempre, não é este álbum que vai fazê-lo.

Mas a normal e saudável edição do álbum, da qual faz parte um livro com fotografias de David Lynch (que também contribui na composição musical de duas faixas) foi prejudicada pelo certamente justificado receio de Danger Mouse em ser processado pela EMI, devido à infindável batalha judicial em que ambos estiveram envolvidos após a edição de Grey Album (mashup de "White Album" dos Beatles e de "Black Album" de Jay-Z). A acrescer a tudo isso, o nojento lápis azul do monstro EMI fez ainda desaparecer do You Tube o vídeo promocional de DNOTS, composto por uma sequência de fotografias da autoria de Lynch. Lamentável! Opressão vergonhosa! Vil censura! (shhhh pronto, pronto, está tudo bem, podem ver o vídeo aqui).

No entanto, Danger Mouse e Sparklehorse deram a volta ao texto, editando o livro com um CD-R em branco onde se pode ler
"For Legal reasons, enclosed CD has no music. Use it as you will"
e disponibilizando o álbum completo em stream no site na NPR, com possibilidade de download directo. Honrem-lhes o gesto e ouçam-no de início ao fim. Middle finger to the man.

7/10

Sparklehorse & Danger Mouse - Little Girls (com Julian Casablancas)

Sparklehorse & Danger Mouse - Just War (com Gruff Rhys)

sexta-feira, junho 12

[VÍDEO] Aí vem o Sol

...e com ele as habituais recomendações estivais: músicas festivas, dançáveis e despreocupadas. De momento temos três: "Sleepy Head" dos Passion Pit, "Raindrops" dos Basement Jaxx e "Summertime Clothes", dos Animal Collective.

Licença para delirar.





[ÁLBUM NOVO] Recapitulando #1

Porque o Senhor só Acordou em meados de Abril (e não, não estamos a falar da Páscoa), é imperativo arregaçar as mangas e rebobinar um bocadinho o ano musical para que a coluna aqui da esquerda fique mais compostinha e reflicta adequadamente o que nos foi agraciando os tímpanos durante o ano. Cá vai a lista:


Animal Collective - Merriweather Post Pavillion

Começamos pelo álbum mais difícil de descrever, que é já para despachar. E a primeira sensação após a audição do álbum de início ao fim é: não há nenhuma banda do mundo remotamente parecida com os Animal Collective. O nível de abstracção na maneira como aqui são abordados os elementos básicos que compõem as canções, a sua desconstrução e recolagem numa manta de retalhos, de castelos de loops exaustivos e camadas sucessivas de samples, batidas e vocalizações e melodias mecânicas, andam tão longe do convencional que é tão fácil rotulá-los de visionários como de um bando de freaks indulgentes. O apelo dos (mais que muitos) momentos de puro assombro e êxtase em que as faixas se vão transformando, no entanto, fazem-nos inclinar bastante para a primeira hipótese. Merriweather... é a prova raríssima e irresistível de que é possível deliciarmo-nos com um álbum sem nunca sair do modo mas-que-raio-de-música-é-esta, e essa é a merecida conquista de uma banda que pareceu estar toda a sua carreira a convergir para este disco.

9/10

[MP3] Animal Collective - My Girls

[MP3] Animal Collective - Brothersport


Doves - Kingdom of Rust

A banda de Manchester regressa com mais uma colecção de canções poderosas, ascendentes, feitas a pensar em estádios cheios. Há alguns refrescos, como os laivos de electrónica bem audíveis em "Jetstream", abertura do álbum em modo LCD Soundsystem não-dançável, e o ambiente de fároéste do primeiro single do álbum, "Kingdom of Rust". Não se repetem as proezas de "The Last Broadcast", de 2002, até porque um álbum desses - uma das melhores coisas a saírem do rock britânico desta década - dificilmente acontece duas vezes. Com o leme menos virado para a pop, Kingdom of Rust aposta mais em reunir elementos, encaixá-los, torná-los épicos - ainda que a espaços tanta densidade emocional acabe por ficar pintada a cinzento. Mas os Doves continuam a acreditar na pujança e grandiosidade das canções rock pensadas, complexas, cheias, a crer no seu poder arrebatador. E a essa fé dizemos nós amén.

7/10

[MP3] Doves - Kingdom of Rust

Doves - Spellbound


DOOM - Born Like This

Born Like This marca o regresso de DOOM (antes conhecido como MF Doom), o menos loiro dos homens da máscara de ferro conhecidos até à data. DOOM traz na bagagem uma longa carreira de colaborações com notáveis e álbuns incrivelmente coesos, em que foi criando e depurando um estilo e um imaginário muito próprios. Mas poucos dos trabalhos a solo conseguem acertar na tecla tão precisamente como Born Like This, em que o falso desleixo das batidas são o tapete perfeito para o flow de DOOM, o desfiar de uma encruzillhada de referências pessoais e alusões à cultura popular, ("Cellz" começa com Bukowski na primeira pessoa, num sample do filme "Born Into This"), quase sempre abstracta, com recursos de vocabulário quase infinitos, ímpares no hip hop independente - se excluirmos Del Tha Funkee Emcee - tudo cuspido numa média de 3 rimas por verso. Talvez "rima" nem seja a melhor palavra, porque DOOM não rima: alitera.

DOOM continua a ser daqueles que percebeu que o hip hop já é um jovem adulto, e não pode dar-se ao luxo de ser superficial, preguiçoso - lírica ou sonicamente. Pelo menos não de uma maneira sistemática. Não que o próprio DOOM seja um portento de conteúdo, mas apenas porque respeita o género enquanto legítima forma de expressão artística, não o trata com a indigência intelectual que tantas vezes torna o hip hop um mero fenómeno sub-cultural de novo-riquismo, criativamente estanque.

8/10

[MP3] DOOM - Gazzillion Ear

[MP3] DOOM - Ballskin

quarta-feira, junho 3

[VÍDEO] Regina Spektor - O longe já tão perto


...porque o novo álbum se chama Far. E está prestes a sair. É só por isso.

O sucessor do precioso Begin to Hope (2006) teve já direito a single e vídeo de avanço, com a faixa "Laughing With", que começa por ser uma boa ideia - ninguém se ri de Deus nos momentos trágicos - mas a modos que falece na praia.



Bem mais animadora parece ser "Folding Chair", outra faixa a integrar o álbum, recentemente estreada no MySpace da cantora moscovita,assim como "Blue Lips", lado B do single "Lauging With", ambas bem mais representativas do talento de Spektor. Para concordar com esta afirmação, clicar aqui.

My body's perfect 'cause my eyelashes catch my sweat. Yes they do.


Far é editado a 23/6 pela Sire Records.

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Actualização: parece que o timing do post foi fintado como um defesa desmotivado do Estrela da Amadora, porque hoje mesmo saltaram cá para fora mais dois temas (e respectivos vídeos) de Far, que assim fica um pouco mais a descoberto.
São eles "Dance Anthem of the 80's" e "Eet"; após uma rápida audição, o primeiro parece-nos ser, pra já pra já, a melhor canção do disco, com um potencial para single bem maior do que do que "Laughing With". Quanto ao segundo tema, e parafraseando Borat, "not so much".


Dance Anthem of the 80s



Eet


(VIA I Guess I'm Floating)

quarta-feira, maio 27

[RUM DMC PLUGIN] #2: Jaylib

Foi para o ar no passado Domingo a segunda achega do Sr. Acorde no RUM DMC, programa de hip hop da Rádio Universitária do Minho.

Desta vez a selecção foi feita a partir de Champion Sound, álbum que resultou da colaboração entre Jay Dilla e Madlib e que rapidamente se tornou uma espécie de insta-classic do hip hop norte-americano. Não surpreende, tendo em conta quem assina por baixo. Os dois prodigiosos produtores produzem (ora) e rappam alternadamente, dividindo as coisas irmãmente e ainda contando com a ajuda de alguns convidados, como Quasimoto, Talib Kweli e Guilty Simpson.

No RUM DMC a faixa escolhida foi "McNasty Filth", que conta com o contributo de Frank n' Dank, mestres de cerimónia conterrâneos de Jay Dilla (que é o mesmo que dizer que vêm de Detroit).


McNasty Filth ft. Frank-n-Dank - Jaylib

Como complemento, fica aqui o púdico vídeo do tema. Apreciadores de nádegas, alegrai-vos.



Alinhamento completo do programa:

AB & Daru - Soul can you feel me
Radix - Backstage Groove
Outasight ft Kid Daytona & Donny Goines - Fame & Fortune
The Cool Kids - The delivery man (9th wonder remix)
Illa J - Strugglin'
Jaylib ft. Frank n' Dank - McNasty Filth
Classified - One Track Mind
Gang Starr - The Ilest Brother
Blu - Vanity
Lupe Fiasco ft. Matthew Santos - Fighters
Common ft. Cee-Lo Green - Make My Day
The Coalition Crew ft Mr. Laneuous - Hazardous
The Coalition Crew - Cheers
The Pharcyde - Runnin'
Cunninlynguists ft. Killer Mike & Khujo Goodie - Georgia
Common Market - Certitude

O RUM DMC passa todos os Domingos na Rádio Universitário da Minho, das 18:00 às 19:00, com Pedro Teixeira e João Alves nos comandos.

segunda-feira, maio 25

[VÍDEO] Uma canção. Um take. Um táxi.

É um lugar-comum dizer-se que as ideias mais simples são aquelas que funcionam melhor. Mais do que isso, e não raramente, aquelas que na teoria parecem impraticáveis e uma pura perda de tempo são as que acabam por ter os resultados mais surpreendentes e interessantes. Aparentemente, toda a gente sabe isso. O que já é mais raro é que alguém se levante da mesa de café, arregace as mangas e se proponha a concretizá-las.

Em boa hora, foi isso que fez Jono Stevens, ao associar-se à Hidden Fruit e à Just So Films, propondo a músicos e bandas que se amanhassem num banco de trás de um táxi e, no período de uma viagem, interpretassem uma canção. É esse o conceito, resumido numa frase - até porque não há muito mais a explicar - das Black Cab Sessions, e o resultado são interpretações despidas até ao osso, filmadas a um palmo de quem canta, quase ao ponto da lente embaciada, numa tangibilidade deliciosa. Se quiserem, o lo-fi dos lo-fis.

Os exemplos são três: Brian Wilson (dos Beach Boys), Bon Iver e a mais recente volta no carro de praça dos Grizzly Bear. Mas podiam ter sido outros e muitos mais (Fleet Foxes, The Cool Kids, Doves, Jens Lekman, Elvis Perkins, The Walkmen, etc, etc...). Todos os preciosos minutos do vosso tempo serão bem empregues a descobrir tudo isso aqui.



Bon Iver from Black Cab Sessions on Vimeo.



sexta-feira, maio 22

[ÁLBUM NOVO] Graham Coxon - The Spinning Top



Depois de termos antevisto o que o nosso geek favorito andava a cozinhar, chega-nos à mesa a travessa completa, o álbum (dito conceptual) The Spinning Top, o mais recente trabalho de originais do ex-e-recém-guitarrista do Blur. E na travessa vem folk com algumas batatinhas a murro.

Alguém tem andado a ouvir Nick Drake lá por casa: Coxon parece ter abandonado as pretensões de neo-punker ou da powerpop que marcaram a sua carreira a solo, e que muitas vezes redundaram em resultados mais genéricos e incipientes. Em vez disso, Spinning Top envereda por caminhos mais terrenos, tradicionalistas, predominantemente acústicos, sem nunca se desviar muito da rota melódica pop. E o mais interessante é ver como a estética puramente folk sublinha e traz a uma nova luz o virtuosismo técnico de Graham Coxon de guitarra em punho. Em composições blackbirdianas (ui) como "In the Morning", chega a ser surpreendente.

Apesar disso, há no álbum alguns tropeções como as insípidas "Caspian Sea" e "Tripping Over" - variação menores do formato e espírito geral do álbum - que sublinham o problema de triagem e selecção que parece ser o pathos de carreira a solo de Coxon. Bem aparadinho e espremido (em vez de incluir 16 faixas), The Spinning Top podia ser um álbum fantástico. Não chega a ser, mas há aqui razões de sobra para ouvir o álbum longas e saboreadas vezes. Além disso, temas como "Humble Man", "Dead Bees","If You Want Me" podem ser pistas sobre aquilo a que vai soar o regresso dos Blur. Se calhar, por soarem tanto a Blur, esperemos que não se confirmem.

7/10

Amostras: a delicada abertura do álbum, "Look into the Light",



e o típico single de 8 minutos e meio, o opus acústico "In the Morning"

segunda-feira, maio 18

[RUM DMC PLUGIN] Inauguração com Q-Tip

Começou no passado Domingo a saudável colaboração entre este acolhedor espaço em que vos encontrais e o RUM DMC, programa que fornece a hora semanal de hip hop à Rádio Universitária do Minho, a cargo de Pedro Teixeira e João Alves.

Significa isso que, a partir de ontem, o programa passa a incluir no seu alinhamento uma faixa carinhosamente escolhida pel' O Senhor Acorde, recebendo em troca a muito modestinha retribuição de um post semanal, neste blog, com o alinhamento do programa, um destaque para a faixa incluída, e, claro, os habituais e devidos propes.

O primeiro contributo do Sr. A. para o RUM DMC foi a recuperação de The Renaissance, álbum de 2008 que marca o regresso ao activo de Q-Tip. Depois de vários anos de produção intermitente, aquela que foi uma das vozes dos sempre influentes A Tribe Called Quest volta a fazer-se ouvir, num álbum que alterna o intimista com o festivo, entre batidas polidas e incursões pelo funk e nu-soul, mantendo intacto o puro requinte do flow suave e equilibrado aliado à articulação lírica de Q-Tip.

Com a produção do álbum toda a seu cargo - à excepção de "Move", faixa com o inconfundível toque de J. Dilla - Q-Tip assina aqui uma verdadeira obra de autor, um produto acabado, genuíno, pensado e executado com a inteligência e confiança de alguém que parece perceber que viver do estatuto não chega. Um bem-vindo regresso do rapper mais sofisticado da actualidade.

As faixas que rodaram no RUM DMC foram "You", um momento confessional acerca do efeito devastador do ciúme e traição numa relação:
We'll make amends if you admit it/we can ascend if you're comitted/Your heart, is it in it?/If it goes too many ways, sweet love can decay from you
Q-Tip - You


e "Move", com a fluidez imparável de Q-Tip a encher o peito sobre o retalho de loops de J. Dilla:
Your dubious style may rock for right now/But in the long run, you really lost one
Q-Tip - Move


Alinhamento completo do programa:

Asher Roth - Lark On My Go-Kart
K-os - Astronaut
Bambu - Beach Cruising
Kraak and Smaak - That's My Word
Blu - Amnesia
Q-Tip -You
The Jonesz - Guess What
Lady Sovereign - Food Play
Mr. Oizo ft. Uffie - Steroids
Outasight - Exclusive
Q-Tip - Move
Paradox ft. Jeremiah Bonds - Life of an Artist
Wajee - Good Things
Sach - 5 Dollar Coffee My Fault
The Roots ft. Dice Raw & Malik B. - Here I Come
Jay-Z ft. Foxy Brown - Ain't no Nigga

O RUM DMC passa todos os Domingos na Rádio Universitária do Minho, das 18:00 às 19:00, com Pedro Teixeira e João Alves nos comandos. Fiquem atentos, cá e lá.
 
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