sexta-feira, junho 12

[ÁLBUM NOVO] Recapitulando #1

Porque o Senhor só Acordou em meados de Abril (e não, não estamos a falar da Páscoa), é imperativo arregaçar as mangas e rebobinar um bocadinho o ano musical para que a coluna aqui da esquerda fique mais compostinha e reflicta adequadamente o que nos foi agraciando os tímpanos durante o ano. Cá vai a lista:


Animal Collective - Merriweather Post Pavillion

Começamos pelo álbum mais difícil de descrever, que é já para despachar. E a primeira sensação após a audição do álbum de início ao fim é: não há nenhuma banda do mundo remotamente parecida com os Animal Collective. O nível de abstracção na maneira como aqui são abordados os elementos básicos que compõem as canções, a sua desconstrução e recolagem numa manta de retalhos, de castelos de loops exaustivos e camadas sucessivas de samples, batidas e vocalizações e melodias mecânicas, andam tão longe do convencional que é tão fácil rotulá-los de visionários como de um bando de freaks indulgentes. O apelo dos (mais que muitos) momentos de puro assombro e êxtase em que as faixas se vão transformando, no entanto, fazem-nos inclinar bastante para a primeira hipótese. Merriweather... é a prova raríssima e irresistível de que é possível deliciarmo-nos com um álbum sem nunca sair do modo mas-que-raio-de-música-é-esta, e essa é a merecida conquista de uma banda que pareceu estar toda a sua carreira a convergir para este disco.

9/10

[MP3] Animal Collective - My Girls

[MP3] Animal Collective - Brothersport


Doves - Kingdom of Rust

A banda de Manchester regressa com mais uma colecção de canções poderosas, ascendentes, feitas a pensar em estádios cheios. Há alguns refrescos, como os laivos de electrónica bem audíveis em "Jetstream", abertura do álbum em modo LCD Soundsystem não-dançável, e o ambiente de fároéste do primeiro single do álbum, "Kingdom of Rust". Não se repetem as proezas de "The Last Broadcast", de 2002, até porque um álbum desses - uma das melhores coisas a saírem do rock britânico desta década - dificilmente acontece duas vezes. Com o leme menos virado para a pop, Kingdom of Rust aposta mais em reunir elementos, encaixá-los, torná-los épicos - ainda que a espaços tanta densidade emocional acabe por ficar pintada a cinzento. Mas os Doves continuam a acreditar na pujança e grandiosidade das canções rock pensadas, complexas, cheias, a crer no seu poder arrebatador. E a essa fé dizemos nós amén.

7/10

[MP3] Doves - Kingdom of Rust

Doves - Spellbound


DOOM - Born Like This

Born Like This marca o regresso de DOOM (antes conhecido como MF Doom), o menos loiro dos homens da máscara de ferro conhecidos até à data. DOOM traz na bagagem uma longa carreira de colaborações com notáveis e álbuns incrivelmente coesos, em que foi criando e depurando um estilo e um imaginário muito próprios. Mas poucos dos trabalhos a solo conseguem acertar na tecla tão precisamente como Born Like This, em que o falso desleixo das batidas são o tapete perfeito para o flow de DOOM, o desfiar de uma encruzillhada de referências pessoais e alusões à cultura popular, ("Cellz" começa com Bukowski na primeira pessoa, num sample do filme "Born Into This"), quase sempre abstracta, com recursos de vocabulário quase infinitos, ímpares no hip hop independente - se excluirmos Del Tha Funkee Emcee - tudo cuspido numa média de 3 rimas por verso. Talvez "rima" nem seja a melhor palavra, porque DOOM não rima: alitera.

DOOM continua a ser daqueles que percebeu que o hip hop já é um jovem adulto, e não pode dar-se ao luxo de ser superficial, preguiçoso - lírica ou sonicamente. Pelo menos não de uma maneira sistemática. Não que o próprio DOOM seja um portento de conteúdo, mas apenas porque respeita o género enquanto legítima forma de expressão artística, não o trata com a indigência intelectual que tantas vezes torna o hip hop um mero fenómeno sub-cultural de novo-riquismo, criativamente estanque.

8/10

[MP3] DOOM - Gazzillion Ear

[MP3] DOOM - Ballskin

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